segunda-feira, 21 de junho de 2010

"Ela chega e instaura o seu cosmético caótico"

Beleza, charme, carisma, elegância. Atributos que em atrito nas mulheres nitroglicerinam-se. Bombas incendiárias, olhares dardejantes, sorrisos de napalm. Caras, bocas, ademanes, todo um arsenal de estilo e discrições pirotécnicas aplicado contra os incautos que pousem os olhos na Vênus incandescida. Rapidamente as vítimas quedam extáticas, embruxadas pela fulgurante visão. Deitem fora as amarras e os potes de cera: nada, rigorosamente nada é capaz de impedir os joelhos dobrados ante o canto hipnótico da beleza soberana.

Costumo deixar-me abater por esse tipo de sortilégio e gosto de observar, a distância, a rendição dos imprudentes. Comum, muito comum o espetáculo.

O curioso é que as detentoras dessa faca só lâmina, por mais hábeis que sejam no manejo, podem ferir-se com o gume do próprio magnetismo. A sedução pode ser um vício. Há mulheres que vivem entorpecidas pelo fascínio que exercem sobre os outros. Encantadas com o próprio encantamento, fazem da sedução uma prática constante e inconsequente, justificada pelo prazer reles e fugaz de... seduzir. A sedução pela sedução, sem desdobramentos ou promessas de deleite – chegam, fulminam e só. Depois... o depois não existe. Transformam em caos a sua potência quando, findo o eco da sereia, entoam o oco das evasivas.

Não, elas não conhecem o maná do amor nem as delícias tortuosas da paixão que infundem. Transbordam o poder, mas sucumbem ao (falso) pudor, privando-se mesquinhamente de dar-se a quem é já plenamente seu. Poderosas Górgonas. Pobres Afrodites.