quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Customize-se!

Nesta onda de criar sua própria moda, vejam o que fez uma leitora do Comando...

Ela transformou um ícone do vestuário masculino, um símbolo de masculinidade, numa peça de roupa feminina. E vejam que inusitado: ao transpor o item do guarda-roupa do homem pro da mulher, o que antes protegia um pênis passa a cobrir peitos!

Imagina, você está na casa do namorado e pensa em ir direto pra academia, dar uma corridinha, qualquer coisa assim. Está com a mochila arrumada e tudo o mais. Antes de sair, dá aquela conferida na bolsa, pra ver se está tudo lá. Opa, cadê o top? Esqueceu? Vai deixar de malhar por causa disso? --ni--não. Você tem o armário do gato, mais especificamente a gaveta de cuecas. Escolha uma que não esteja detonada demais e, com uma tesoura, customize-a, transforme-a. Mas atenção! Você só deve cortar o fundo, tomando cuidado pra não estragar os elásticos que farão as vezes de alças. E lembre-se de que o formato do recorte vai depender do tipo de decote que você desejar.

Top-cueca. Brilhante! Desde A Fonte de Duchamp não vejo nada tão excepcional.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Comandantes, tirem seus lencinhos da gaveta! É dose...dupla.




A Arte de Desencantar

Tudo nasceu do olhar indireto entre eles—ele não via que ela o mirava através das lentes sujas. Ela nem sabia que ele a olhava pelo opaco líquido sobrando dentro do copo. Estavam ambos perdidos em noite suja. Não a noite de Plínio Marcos. A sujeira da noite dos dois era puramente lírica---amores mal resolvidos, livros nunca escritos, punhos que não foram cortados por conta de outros amores, estes, mais avassaladores.

Apesar de não saberem que se viram antes do momento-agora, sentaram-se à mesma mesa, sincronizados. Ele não a convidou nem ela se ofereceu ao encontro. Aconteceu. Ela tirou as lentes e ele moveu o copo para o lado. Ele cruzou a perna em direção à ela, e ela respondeu o gesto virando o seu corpo para ele. Ele não notava que a desejava já, com as pernas. E ela, reciprocamente, com o corpo completo. Ficaram assim, fumando juntos, rindo juntos, se descobrindo juntos. O desejo entre eles era natural. Falaram dos casos mal resolvidos e dos livros. Tiveram vontade, mas faltou-lhes coragem de visitar os cômodos febris da memória, onde vivem os fantasmas dos que mereciam um ato estólido de amor.

Também falaram da infância... meu Deus, tão iguais. Da feiúra na adolescência e de ambos debandes. Beberam, fumaram, riram risos tímidos. A madrugada foi caindo pesadamente sobre a mesa, sobre suas pálpebras. Levantaram-se e caminharam lado a lado na mesma direção porque ele alterou o próprio percurso para que coincidisse com o dela. Ela vagarou o passo e ajustou-o ao dele. Depois foi só silêncio. E orvalhada.

Prometeram-se cartas e telefonemas, e só. Vê-la seria errar por completo. Ela queria tanto que ele garantisse um novo encontro. Pela primeira vez, discordavam. E daí pra frente foi só desencontro. Ele escrevia, não como deveria escrever quando se escolhe amar pela metade. Eram doces suas frases, como gosto da carne de um caqui onde já não há vestígios do sabor adstringente das frutas imperfeitamente amadurecidas. Ela respondia, quase rasgando os pulsos e deixando correr o sangue morno. Ele cantava para ela, mesmo desafinado. Ela pintava pra ele. E repintava insistentemente o mesmo objeto, não buscava o fim. Preferiam o futuro truncado. Ele, passava os dias sonâmbulo, distraído em delicadezas, ela galopava entre avalanches de sesações-memórias e desejos de Adão. Pela noite, ela não sonhava e sim acumulava pesadelos—ele se partindo ao meio, ela o costurando, ele sangrando, ela o secando. Quando ela finalmente sonhava, quisera avidamente serem estes os sonhos de premunição, ele não os via. Quando ele ligava, ela sempre ocupada. Quando ela retornava, já era madrugada. Ele, entocado e ela, coração avivado.

Até que um dia ele sumiu. Era um homem que acumulava nãos. Ela, que era toda sim, ainda escrevia, procurava. Ele? Ela já não mais sabia. Sentou-se à janela. Dia após dia, rescreveu os versos dele, a imagem dele, a voz dele—em páginas tristes, em telas virgens, em melodia de voz muda que corre desvairadamente dentro da cabeça. Na poeira acumulada no vidro, ela rabiscava o próprio fado. Depois apagava tudo. Esvaziava a alma. Miúdo, oco e frágil como casa abandonada de pássarinho, seu coração se encheu de revolta sem fim. Era fato: o mundo era repleto de meio-homens, minotauros dos tempos modernos, presos em seus labirintos de medo, cegos por suas fragilidades, devorando suas presas através da arte do desencantamento. Ela secou a cara, rasgou as cartas, cuspiu nas telas e apaziguou o próprio infortúnio prometendo a si mesma, ser mais sagaz. Escreveu outras estórias. Desde então passou a enxergar o outro cara-a-cara. Olho-no olho. Desde de o primeiro olhar.


segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Meninas do Comando:

Vasculhando imagens de heroínas como a gente, encontrei estas Amazonas— guerreiras, maravilhosas, poderosas. Se alguém tiver sugestão melhor, sou bem democrática e nada apegada.


Tenho outra sugestão depois de ver o comando no twitter: colocar este fundo em rosa-pink-shock e as letras em branco. Aliás já mudei, se odiarem, voltamos ao lavanda bebê.

Boa semana para todas!

Bjs,
Juju Delfin.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Eu, Sigourney Weaver


“Na juventude, você aprende. Na maturidade, você entende.”
Quem tá no meio do caminho, só olha, estarrecida...


Tem uma pessoa dentro de mim.
Acho que vale repetir a frase com a devida ênfase: tem uma PESSOA dentro de mim.
Voltemos ao início: papai plantou uma sementinha dentro da mamãe. Essa sementinha entrou em um ovo e virou um bebê.
Ah, tá. E a gente, que é grande e sabido, explica isso para as crianças como se fizesse muito sentido.
Tentemos novamente:
Um óvulo, que normalmente sangra depois do mau humor + um espermatozóide, que até onde eu entendo é uma espécie de girino = um SER HUMANO. Um conjunto de orgãos que fecha os olhos e sonha. Que pensa e dá risada. Que ama.
Lógico. Tudo muito natural. Analisado e provado pela ciência.
Que vergonha, gente, ficar repetindo essa baboseira como se não fosse um mito como outro qualquer...
Que as meioses e mitoses da vida possam ir se dividindo e multiplicando as células, eu nem duvido não. Mas uma pessoa é muito mais do que tecidos, células e fluxo sanguineo.
É uma vida. É uma alma. Um suspiro.
É, na ausência de uma palavra menos carregada, um milagre.
Sem conotação religiosa que yo no lo creo en brujas...
... pero que las hay, las hay.
Eu não acho que exista um responsável por isso.
E, sinceramente, acho um desgaste inútil tentar descobrir.
Mas nunca nada me pareceu tão mágico.
...
Não sei o Bruno, mas se a Nina vier me perguntar da onde vêm os bebês, eu vou dizer que é pó de pirlipimpim.

(Eu sei. Eu devo ser a única pessoa no mundo que nunca pensou a esse respeito mas essa sou eu: Pedro Bó até que eu mesma me prove o contrário.)

Bom pra mim, melhor pra você.

Troço curioso esse da aparência! É como naquela réplica modesta ao elogio formal da beleza: “São seus oooooooooolhos!” E normalmente são mesmo. Veja o meu caso. Minha aparência não tem qualquer impacto aos olhos das mulheres. Sou daquelas que não desperta mais do que a indefectível escaneada feminina cabelo-roupa-sapato. Aos olhos masculinos, entretanto... Não é que eu tenha um conjunto tão especial, sabe? Possuo senso estético apurado e autocrítica irretocável para que essa noção me escape. Mas o fato é que sou dotada de dois atributos que despertam a libido masculina. Digamos que eu poderia responder diferentemente ao tal elogio: “É seu paaaaaaaaau!”

Na verdade, estou sendo pouco precisa. Sei exatamente o que atrai no meu conjunto, minha bunda e minha boca. Minha boca e minha bunda. A ordem depende se estou indo ou vindo, mas o efeito é sempre o mesmo. Só a forma masculina de manifestação da, digamos, admiração por esses atributos é que difere. Ela varia de acordo com quesitos como discrição, elegância, nível de testosterona, etc.

Felizmente, a genética me presenteou com uma terceira característica interessante. Essa não costuma estar associada às duas primeiras, o que me cobre de vantagens. Sou inteligente bagarai.

Mas fique tranquilo, amigo leitor. Isso não é prefácio pra frase “meu único defeito é que sou muito modesta”. Essa eu deixo para aquelas camisetas divertidas que se vê por aí nas meninas descoladas. Até porque sei muito bem dos meus muitos pontos fracos. Como disse, minha autocrítica é irretocável. Neste blog, estou sendo simplesmente sincera. Sou gostosa e inteligente, o que me leva a tratar esse assunto em tom quase confessional. Afinal, nenhuma mulher inteligente sai por aí alardeando que é gostosa. Donde se conclui que elegância tem tudo a ver com inteligência. Humm... vou sugerir essa frase pra alguma daquelas camisetas.

Não sei bem ao certo quando descobri esses poderes. Mas estimo que lá pros 12 aninhos os efeitos do trio boca-bunda-cérebro tenham começado a se manifestar sobre os homens. Foi mais ou menos a época em que a cintura foi afinando, a calça jeans recheando e eu descobrindo o batom cor de boca. É, o gloss veio bem depois.

Na verdade, os poderes do cérebro só vieram a ser mais bem explorados a partir dos 16. Obviamente, só pegava homem mais velho, o que aumentava ainda mais a aura sobre mim. As garotas desdenhavam “Não sei o que eles veem nela”. Os colegas de classe invejavam “Putz, o cara tem carro! O que eu não faria com aquela boca e aquela bunda dentro de um carro!”. O cérebro ajudava também a lidar com o desdém feminino. Apesar de saber que, no fundo, todas me odiavam, sabia que todas queriam ser eu. De alguma forma, isso se manifestava em magnetismo pessoal. Sei lá, acho que é o tal carisma.

Quanto aos homens mais velhos, eu sabia levá-los direitinho no bico, ou melhor, na boca. Não que fosse simples, mas era justamente o desafio que me instigava. No fim, estavam sempre todos rendidos. E eu, desinteressada.

E cá estou eu agora, cheia de histórias pra contar sobre uma vida muito interessante. Sou Cecília Kiddo, a mais nova comandante do pedaço. Comandar está no meu sangue. Acho que vai ser bom pra mim. E será melhor ainda pra você!

domingo, 18 de outubro de 2009

Eu vos declaro...

Eu não falo sobre o amor. Não gosto dele. Incomoda esse palco montado para duas pessoas. Prefiro a cama, sempre preferi. Acho que desde cedo via o travesseiro como lugar de deitar cabeça ou como objeto de calço de quadril para a foda vir com mais encaixe; nunca como o forro para as alianças atravessarem o altar. Acho feio, fedorento, sem sal, morno, castanho, esse tal amor.

Hoje ouvi o padre dizer que o perdão é fundamental; e que um casal deve sempre se perdoar entre si; fazer do perdão um exercício constante. E isso, depois de narrar toda aquela beleza do que deve ser o casamento: fidelidade, companheirismo, cumplicidade. Eternidade. Mas com perdão constante. Perdoe com regularidade, vacile com moderação. Não entendo, é conflitante. Como assim, Bial?

Acredito, no entanto, que ele exista, o amor. Já esbarrei com ele algumas vezes: fugi, me entreguei, repeli, afastei, mas o vi. Tateei, experimentei. Também fui cúmplice de alguns, espectadora de outros, torci por muitos, temi outros tantos - alheios e meus. Acho que ele nos rodeia, ele is in the air, como diz a música repetitiva.

Desconfio, em negrito, de algumas embalagens que, muitas vezes trazem, em seus tafetás, rendas e drapeados, pessoas compromissadas, geladas, duras, fiéis, adoradoras, sorridentes. Desconfio que mesmo com tanta devoção, não sejam amantes, companheiras, carinhosas, divertidas e legais. Entre si.

Transito entre amantes, convivo com maridos, mulheres, namorados, apaixonados embrulhados em papéis tão mais leves, tão menos brilhosos (mas não menos brilhantes: que fique claro), menos caros e tão mais amores, mais juntos, mais sorriso aberto. E a sensação de ver essas mãos dadas e cabeças encostando uma na outra me leva a um suspiro silencioso, interno: ufa.

O amor existe, está no ar, é celebrado, fica contente, se balança, se encontra. O amor goza, grita, geme, dorme e ronca, beija e abraça, dá tempo e sente saudade. O amor é vivo e como a gente é vivo e fica doente, o amor passa por poucas e boas: leva tombos, anda para trás, expira interrogações, dá medo. E ainda assim, pulsa. O coração tá lá batendo, a informação continua sendo enviada ao cérebro. A vida continua e ele espia tudo, sabe onde entrar, quando entrar, o que fazer, como andar e que roupa vestir.

O amor muge, dá leite, deita e dorme. Alimenta, traz pesadelo, faz adoecer, oferece cafuné e fica mudo.

Eu, normalmente, não falo sobre o amor.

sábado, 17 de outubro de 2009

Longe do cu do mundo

Eu tive um grande amor. Vivemos felizes por longos anos, compartilhamos certezas, desejos, sonhos, ambições. Acreditava na velhice junto a ele; ele, o meu sapato velho; a senilidade incapaz de nos separar. Nada poderia nos afastar.

Mas, caso do acaso, ele se apaixonou por outra. Conheceu uma moça ótima, aproximou-se dela, criou outras identificações e sintonias, e começou a me desamar. Eu, o ex-amor. Mas acontece, eu sei, é a vida, e é bonita. Todos somos passíveis de viver um novo amor, talvez melhor que o anterior, mais pleno. Eu, você, qualquer um. Não adianta tentar blindar o coração. Quando a paixão chega, não há como resistir ao seu ataque. É arrebatador, você não consegue se proteger: o amor, quando acontece, a gente esquece logo que sofreu um dia e se entrega. Todos os mecanismos de autopreservação são desativados.

Nessa história, eu sobrei e levei um solene pé na bunda. Não foi fácil, chorei, me despedacei. Quase enloqueci, quis argumentar, pedi a ele para ficar, mas depois, como era de costume, obedeci. Fui embora com meus sonhos destroçados.

Mas, sabe, até um pé na bunda faz você andar para frente. E agora estou refeita. Renata, renascida, está no meu nome, essa sou eu. Uma mulher que não tem vocação para tristeza, que reconhece a queda e não desanima.

E há pouco o noticiário televisivo confirmou: eu não poderia estar em lugar e momento melhor. A casa em que ia viver com meu ex está no meio de fogo cruzado. A guerra urbana dispara balas perdidas no quintal que seria meu, mas hoje é da minha sucessora.

Eu escapei do cu do mundo.



O cu do mundo
Caetano Veloso

O furto, o estupro, o rapto pútrido
O fétido seqüestro
O adjetivo esdrúxulo em U
Onde o cujo faz a curva
(O cu do mundo, esse nosso sítio)
O crime estúpido, o criminoso só
Substantivo, comum
O fruto espúrio reluz
À subsombra desumana dos linchadores

A mais triste nação
Na época mais podre
Compõe-se de possíveis
Grupos de linchadores

sábado, 10 de outubro de 2009

A nossa canção

Andamos por aí. Encontros imprevistos, caminhos atravessados, rotas paralelas. Sabores muito parecidos e outros muito diferentes. Gostos que nos aproximam e nos afastam. Tantas coisas que nos distinguem e, por isso, despertam o interesse de um pelo outro. Ainda não sei muito dele, nem ele muito de mim. Há terrenos preservados, e há espaços que não quero invadir. Há lugares que ele prefere não conhecer. Sabemos do outro o suficiente pra gostar. E pra querer estar junto do jeito que dá pra ser. Mas, muitas vezes, não dá pra ser. E, nos dias de chuva, em que a água lava a janela e as lágrimas, o meu rosto, sinto falta do abraço dele. Sou acolhida então pela melodia da canção romântica que outro dia embalou nosso beijo.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Eu te espero, vem!

Tem sim, tem muito de mim aí dentro. Não negue, não faça assim. Foi tanto tempo, tanto amor, tantas pernas entrelaçadas, tantas roupas misturadas, tantos segredos, tanto cabelo puxado na hora do tesão. Erramos, claro! Mas não merecemos tudo isso. Estou com a boca seca, queria me olhasse de verdade e aceitasse tudo o que explico, o que escrevo, o que repito. Você não escuta, não entende. Mas nem raiva eu consigo ter de você. Tenho sim, uma amargura, uma falta, uma dor no peito que não me deixa. O nome disso é sofrimento. Porque eu sei que não conseguiremos jamais nos esquecer. Não adianta todas as histórias que me conta, porque sei que em todas eu estou presente de alguma forma. E você está nas minhas. A verdade é que estaremos sempre esperando um ao outro. Estaremos sempre esperando o momento em que o outro se desarmará e esquecerá o ciúme, o orgulho, a mágoa e o arrependimento de não ter levado as malas pro fusca lá fora.