Foram anos de uma paixão alucinada.
Ele sempre muito confuso, muito inseguro.
Como todo homem. Mas com aquele ar de quem tá com tudo!
Ela já havia tido muitos homens na vida.
Alguns bacanas, outros bem canalhas.
Ele não. Tudo certinho.
Só mulheres parecidas.
Todas mulheres honestas no amor, recatadas na cama, certinhas nas profissões caretas.
Talvez até fosse isso que a atraísse nele.
Uma vontade de bagunçar aquela vida tão arrumadinha demais.
E ela se apaixonou de verdade.
Quando o via, subia uma coisa dentro dela incontrolável.
E ele não dava conta.
E ela queria mais. Pedia mais.
Mas ele medrava. Fazia que ia, mas fugia.
Dizia que queria, mas no fundo tinha pavor do que ela seria capaz de fazer com ele.
E no lugar de devolver o tesão e a paixão, devolvia agressão.
Falava palavras duras.
E ela insistia.
Porque não tinha medo de nada.
Corajosa. Porreta. Vivida, sabia que dava conta de tudo.
Até das maiores asneiras que escutava dele.
Ela até achava graça.
Achava tudo uma grande bobagem.
Mas foi ficando sem graça.
Foi achando ele cada vez mais igual a todos.
Tudo tão previsível.
Tudo tão sem o glamour que só a paixão faz ter...
E foram se afastando.
Deixaram de se ver, de se falar.
Mas ela sentia saudade dele.
Achava que sentia.
Foi achando que não sentia mais.
Ficou em dúvida se ainda sentia...
Outro dia passou por ele na rua.
Não sentiu nada.
Não subiu nada dentro dela.
Nem vontade de falar. Nem de saber dele. Nem de tocar nele.
Lembrou da História de Adele H.
Ela era apaixonada pela paixão por ele.
Não mais por ele.
Fios e atavios no Armazém4
Há 8 anos
8 comentários:
Seu texto foi muito emocionante. Parece que tomei uma facada no peito. Triste e belo. Por um momento parece que minha tela de rosa ficou cinza...
apaixonada pela paixão, namorada do namoro, mãe pela maternidade...
mulheres tão conhecidas, tão normais, tão mulheres. possíveis, compreensíveis, fêmeas. as mulheres amigas, das nossas vidas. tão bobas, tão plenas, em busca.
que bom que não subiu mais nada. ele não sabe o que perdeu.
Engraçado, de repente todos os blogs parecem estar falando diretamente comigo.
ego-centrismo, coincidência ou... é isso mesmo?
Cmte. Layla,
Estava com saudade do seu texto.
Sob a ótica feminina, a personagem ficou ainda mais vivida ou definitivamente marcada?
P.S.: As vezes até eu tenho dúvidas.
Impressionate como há pessoas - homens ou mulheres - que economizam no afeto.
Uma bobagem isso. Não sabem o quanto tempo perdem adiando a felicidade.
Maravilhoso isso, Layla!
Há quem não saiba viver mesmo, né?
Que bom que Ela abandonou-se dele.
É como disse Nietzsche: acabamos por amar o desejo em lugar do objeto do desejo. Comum, muito comum...
deixar de gostar de quem não gosta da gente, assim, vivendo...nem sempre é assim. geralmente não é assim. Há os que guardam raivas,monstros, que cuspirão ao encontrar o outro na rua... Há amores, e há amores...
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