quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O estranho mundo das dores do amor

Embora eu ouça e veja tanto sobre o assunto, não sei o que é sofrer por amor. Eu mesma já fiz sofrer muito. Obviamente, já quis que alguns relacionamentos durassem mais do que duraram, mas isso não povoou meus pensamentos por mais de algumas horas. Entendo que relação é uma coisa de dois e, se um não quer, acabou pra ambos, ponto.

A tal história do vazio no peito, do nó na garganta, do chorar no banho ou no travesseiro até adormecer de cansaço... não sei o que é. Respirar fundo ao botar a mesa com um lugar a menos, sentir a dor da cama vazia, perder-se nas horas soluçando em fotos da última viagem feliz... desconheço. Sentir um aperto quando o time do ex-amado vai pra final do brasileirão, marejar os olhos com a proximidade do Natal, sentir dor física de saudades por não poder compartilhar certos medos... nossa, é tudo muito triste! Mas eu só conheço da dor dos outros. Nunca a minha.

Porém, essa é uma incapacidade da qual não me ressinto. Experimento, sim, certa sensação de curiosidade. Na verdade, meu maior interesse é entender as razões que me levam a ser dessa maneira. O raciocínio mais direto é supor que só quem nunca amou de verdade pode jamais ter sofrido por amor. Bem provável ser esse o meu caso. Mas, então, ao menos dessa lacuna eu não deveria me ressentir? Tô nem aí...

Toda vez que uma amiga cai em prantos, deprimidíssima com um problema dessa natureza, ponho-me a refletir sobre o assunto. A dor da querida me comove, pois acredito que seja genuína. Porém, não entendo como essa perda possa roubar, simplesmente suprimir, a alegria, o brilho de pessoas tão especiais. Tenho amigas inteligentes, atraentes e generosas que já se sujeitaram às situações mais bizarras. E mesmo tendo plena consciência disso, o fim da relação foi, para elas, como experimentar uma espécie de morte. Já vi lutos tão tristes, mas tão tristes, que era quase possível tocar naquela dor tão intensa. Nesse momento, não consigo me conter e junto à compaixão, sinto-me invadir por uma enorme sensação de estranheza. Tá, tudo bem, toda relação tem seu algo bom, mas, se acabou, acabou, cacete! Shit happens, então, bola pra frente que a fila anda!

Comigo funciona quase como um ato reflexo. Se um homem não me quer ou me quer diferente (o que dá mais ou menos no mesmo), perco absolutamente o interesse. E o mais engraçado é que, invariavelmente, o efeito dessa reação é o sujeito me querer mais do que nunca. Só que, uma vez quebrado o (quase) encanto, quanto mais eles ficam fascinados, tanto mais aumenta meu enfado. É como uma fórmula certa. A má notícia é que só funciona pra quem não precisa usar.

Voltando às amigas, confesso que às vezes sinto culpa. Tenho ganas de sacudi-las, de estapear-lhes as fuças, dizendo: “Dê-se ao respeito, pooooooooooooorra! Tenha vergonha nessa caaaaaaaaaaara!” Mas isso é algo que nunca fiz ou farei, pois não vou desrespeitar um sentimento apenas por não conhecê-lo. Dou colo, ombro e carinho. Mas que eu acho tudo muito estranho, isso eu acho.

5 comentários:

Lindas e Belas disse...

Cecília, querida, seus posts me descrevem com precisão cirúrgica. Chego a rir de nervoso. Vem cá, você sou eu?

renata born disse...

Luciana, não é possível. Você não conhece Cecília.
Apesar de ótima amiga, ela é insensível demais ao sentimento do outro. Só se importa consigo mesma.
Acho louvável a disposição dela para não sofrer e tudo mais, eu mesma sou assim, não fico me apegando à tristeza e dor.
Mas Cecília extrapola. Não te conheço, Luluzinha, mas acho que, como ela, você não é.

Cecília Kiddo disse...

Rê, não se trata de disposição pra não sofrer, mas de falta de disposição pra sofrer. Simplesmente não vejo sentido.

Lu, acho ótimo que alguém tenha coragem de se identificar comigo. Parabéns, você deve ser o máximo!

Anônimo disse...

Dor maior é sofrer por/de desamor.

Ju delfim

Dona Baratinha disse...

Qdo li seu texto, lembrei imediatamente de um textinho que eu escrevi há um tempão atrás...
bjs

"Não era dada a destemperos. E tinha preguiça dos exagerados. Mas quando descobriu que tinha perdido um grande amor achou, pela primeira vez na vida, que podia de embarcar no sofrimento. Agora sim tinha motivo para chorar. Chegou a ouvir: você não é assim. Não, não era. Mas achava que estava no direito de se oferecer aos clichês. Escorregou pela parede do banheiro chorando, olhou a chuva pela janela chorando, assistiu a novela chorando. Rasgou fotos, escreveu textos, berrou canções. Fez uma tatuagem, um blog e serviço completo no salão. Deixou transparecer a tristeza por entre a carapaça endurecida. Não tinha costume de chorar suas pitangas ao alheio. Não. Mas achava que estava no direito. E de tanto direito virou uma chata que seu próprio senso de ironia era incapaz de aturar Ó mundo cruel: os amores acabam, as pessoas morrem, as crianças passam fome e o Bush é presidente dos EUA. Paciência. Nunca mais endosso a auto-comiseração."